Do Poeta ao Pintor


Rio, 27 de outubro de 2002

Agradeço a oportunidade de começar meu sábado como uma oração, isto é, de joelhos diante de seu trabalho. Abri o seu site e me emocionei! Desculpe as “impressões” que a sua obra me proporcionou. Digo “impressões” porque nada entendo de artes plásticas, e em mim restam as emoções que elas me passam. E o seu trabalho, que eu conheço bem menos do que devia, me deixou de alma limpa e com os olhos embargados. De fato.
Gosto dos elementos eróticos, inconsciente ou subjetivamente embutidos em muitos dos seus quadros. Adoro o jogo cromático, o uso do vermelho e azul tão bem colocados nas telas (inferno X céu?) e as imagens dos corpos sempre eloqüentes, sinuosas e sensuais.
Alguns quadros me deixaram emocionado, como todos os da Galeria 1, principalmente, o "Cristo" em azul, e o óleo s/tela da Galeria 3, por sua ambigüidade: um ser andrógino que parece ter diante de si uma flor que lembra a figura da Morte (?). Emocionante a maneira como você insere o ser humano na natureza, como se ele fosse a própria natureza (e o é, realmente); quase sempre nascendo ou mesclando-se com as flores e as plantas, como se tudo fosse uma coisa só, ao mesmo tempo una e (in)divisível. A fantástica obra da mãe amamentando o filho dá a impressão de ser um caule, uma planta verde, uma árvore que dá vida e esperança de vida. Lindo!
O óleo sobre tela que inaugura a Galeria 2 é inacreditavelmente belo, com seus elementos fálicos, em azul e vermelho.
Impressionou-me muitíssimo o "Cristo Despedaçado" (desculpe a metáfora, a leitura do quadro) da Galeria 4, em bico de pena, lápis e hidrocor, procurando, humanamente, uma estrada (ou Salvação?). Belíssimo!
Ótimo, também, o óleo sobre tela do Arlequim (?), que me lembrou a triste-euforia-bailarina da Elis.
Gosto muito da forma como você trabalha os elementos erótico-profano-religiosos, sem submetê-los a um julgamento ético, somente ao estético. É como se você dissesse: está tudo aí, eles existem. Não me cabe julgá-los. São só personagens. MINHAS personagens! MINHAS máscaras! Não deixem de amá-las em suas tristezas, alegrias e humanidades! Amem-nas, somente!
Há uma delicadeza na maneira como você vê o mundo e, principalmente, a Arte. É a sua Alma que resplandece na fortaleza de sua obra. A mim, me parece, essa é a sua grande característica, a grandeza essencial do seu trabalho: a Verdade interior que se transforma em universal. Como toda obra de arte deve ser.

Desculpe, amigo, essa catarse emotiva. Como falei no início, não entendo das técnicas e das formas das artes plásticas. Só da emoção que elas me passam. E estou de joelhos, emocionado.
Obrigado por me proporcionar isso!
Parabéns pela sua Arte!

Do seu amigo e admirador,
Tanussi Cardoso


Tanussi Cardoso, poeta que iniciou suas atividades na década de 70, é um dos mais atuantes e continua até hoje agitando o circuito poético carioca. Possui 4 livros de poemas publicados e é detentor do Prêmio Ruth Scott, do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, do Prêmio Jorge Lima, da UBE, e do Prêmio Carlos Drummond de Andrade. Sua obra já foi publicada no exterior e vários poemas seus foram traduzidos para o francês e o espanhol.


Obs.: Obras desta seção:
1ª) óleo sobre jeans com pedras ornamentais sobre tela.
2ª) Hidrocor, lápis cera, lápis de cor sobre papel cartão.

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